Introdução
Durante séculos, religiões e tradições espirituais cultivaram a imagem de que o desejo era um mal a ser combatido. Para muitos, desejar é sinônimo de cobiça, ambição desmedida, apego ao mundano. Resultado? Milhões foram treinados para se envergonhar da própria vontade.
Mas e se o desejo não fosse um desvio, e sim um sinal de vida espiritual ativa? E se a ausência de desejo fosse, na verdade, a morte da alma?
Esse artigo é uma jornada através da Cabala Judaica, da Magia do Caos e da Goétia, com as chaves simbólicas da Clavícula de Salomão, para reconectar você ao seu poder mais negado: o de querer profundamente.
O Desejo como Impulso da Criação
Na Cabala, a primeira Emanação do Ein Sof (o Infinito) é Kether, a Coroa. Nela, reside o impulso primordial da Vontade Divina: Desejar Criar. Não há Criação sem desejo. Não há forma, luz, universo, sem o primeiro ato: o querer.
O fluxo de Shefa — a abundância divina que desce pela Árvore da Vida — só se move quando há recipiente. E o recipiente é o desejo. Sem desejo, não se pode conter a bênção. Logo, quem anula seus desejos anula também o canal por onde a graça divina se manifesta.
A Cabala afirma: o ser humano foi feito para desejar. O erro não está em querer, mas em querer o que não corresponde à sua alma. O problema não é desejar muito, é desejar pequeno.
O Ego Disfarçado de Humildade
Muitos espiritualistas dizem: “eu não quero nada, estou em paz”. Mas isso é frequentemente um autoengano. Negar o desejo pode parecer virtude, mas às vezes é apenas medo. Medo de querer e falhar. Medo de querer e ser rejeitado. Medo de querer e ter que mudar.
Esse tipo de neutralidade não é espiritualidade: é rigidez. Um ego que se protege da frustração vestindo mantos de paz e desapego. A Cabala chama isso de Klipot — cascas espirituais que impedem a luz de se revelar.
Ser espiritual é querer de forma consciente, limpa, alinhada. É assumir o papel de cocriador e alimentar os canais pelos quais a luz se manifesta.
Magia do Caos e a Escolha do Desejo como Ato Sagrado
Na Magia do Caos, o desejo é tratado como um vetor de realidade. O magista não espera que o mundo o reconheça; ele declara seu desejo, cria um sigilo, carrega-o de energia e o entrega ao inconsciente para que a realidade se curve.
O sigilo, como ensinou Austin Osman Spare, é um desejo transformado em linguagem simbólica e cravado no campo mental através da gnose. O desejo, aqui, é ferramenta. E mais: é mapa do que a alma realmente quer, quando depurada das mentiras sociais.
Desejar conscientemente é magia. Negar o desejo é entorpecer a alma.
Goétia: Desejo Manifesto sob Autoridade Espiritual
A Goétia nos ensina a arte da evocação: chamar as forças ocultas para cooperarem com nosso intento. Mas essa cooperação só ocorre quando há clareza e autoridade. E autoridade espiritual vem de um desejo maduro e declarado.
A Clavícula de Salomão não é um livro sobre submissão: é um manual de como se posicionar como herdeiro do trono espiritual. Salomão não implora. Ele comanda. Mas só comanda porque sabe quem é e o que quer.
Da mesma forma, o operador goético é aquele que reconhece o seu lugar no cosmos e ousa declarar seu desejo diante das potências. Ele não teme o querer. Ele o ritualiza.
Quando a Alma Para de Querer, Ela Para de Crescer
Desejar é um sintoma de vitalidade espiritual. Uma alma que não deseja é uma alma que não está se movendo. Não é o desejo que deve ser eliminado, mas o apego desordenado. O desejo, quando amadurecido, torna-se a trilha da evolução.
Você não veio para reprimir o fogo. Veio para refiná-lo e usá-lo como luz.
Convocação ao Buscador
Se você sentiu algo se mover ao ler este texto, você é um Buscador. E Buscadores não sobrevivem com neutralidade, nem com preces mornas.
Crie um altar. Desenhe um sigilo. Trace um círculo. Acenda uma vela. Evoca seu querer com palavras limpas e olhos de fogo.
Deseje. Declare. Realize.
Porque enquanto você não desejar, a Criação não se move.
E um universo que não se move, morre em silêncio dentro de você.
Desejar é sagrado.
E o mundo está esperando que você se lembre disso.
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