Origem Histórica do Sigillum Dei Aemeth
O Sigillum Dei Aemeth (Selo de Deus da Verdade) é um diagrama mágico cerimonial com raízes na magia medieval e renascentista. Sua primeira aparição conhecida data do período medieval, descrito no grimório Liber Juratus (também chamado Sworn Book of Honorius, atribuído a Honório de Tebas, séc. XIII) (2030 - Seal of God - Museum of Witchcraft and Magic). Nesse texto, o Sigillum Dei (Selo de Deus) era apresentado como um pantáculo sagrado que conferiria imenso poder espiritual ao mago devidamente purificado – permitindo-lhe comandar todas as criaturas abaixo dos arcanjos, desde que tivesse alcançado a visão beatífica de Deus e dos anjos (The Sigillum Dei (seal of God, or signum dei vivi, symbol of the living God, called by John Dee the Sigillum Dei Aemaeth, or... – @throneslbb on Tumblr).
No século XVI, o matemático, astrólogo e ocultista inglês John Dee (1527–1608), junto de seu assistente Edward Kelley (1555–1597), revisitou e reformulou esse antigo símbolo. Entre 1581 e 1583, durante uma série de experimentos de comunicação com inteligências angélicas registrados em seus diários (Mysteriorum Liber Quintus), Dee afirma ter recebido dos anjos instruções detalhadas para construir uma versão corrigida do Sigillum Dei (Sigillum Dei Aemeth) (Una Tragedia para Amantes y Soñadores: Sigillum Dei Aemaeth). Ele então batizou o novo pantáculo de “Sigillum Dei Æmeth”, incorporando a palavra hebraica Aemeth (derivada de ´Emeth – “verdade”) (The Sigillum Dei (seal of God, or signum dei vivi, symbol of the living God, called by John Dee the Sigillum Dei Aemaeth, or... – @throneslbb on Tumblr). Nascia assim, sob orientação “do Alto”, o Sigillum Dei Aemeth como conhecido na tradição enoquiana de Dee.
Propósito Original nas Práticas de Dee e Kelley
Dee e Kelley integraram o Sigillum Dei Aemeth em suas práticas esotéricas como um instrumento central de magia angélica. Eles desenvolveram um sistema complexo de invocação espiritual que ficou conhecido como magia enoquiana, baseado na comunicação com anjos e na recepção de conhecimentos divinos (como um suposto “idioma angélico”). Nesse sistema, o Sigillum atuava como um pantáculo de evocação angelical – um selo que servia tanto para proteger o praticante quanto para facilitar o contato com entidades celestiais (Sigillum Dei Aemeth) (The seal of God's truth. Sigillum Dei Aemeth. The Sigil of Ameth.). Segundo os relatos, os próprios anjos teriam instruído Dee sobre a confecção e uso correto do sigilo, enfatizando sua função de chave para abrir os canais de comunicação segura com o mundo espiritual.
Uma das preocupações de Dee era garantir que suas visões e mensagens fossem genuinamente divinas, sem interferência de espíritos enganadores. Por isso, ele valorizava o Sigillum Dei Aemeth como um selo de verdade e autoridade divina, que autenticaria as visões recebidas. Nas instruções angélicas, ficou estabelecido que o Sigillum deveria ser confeccionado em discos de cera e utilizado durante as sessões de vidência (scrying) conduzidas por Dee e Kelley (Sigillum Dei Aemeth). Assim, um disco contendo o Sigillum era colocado sobre a mesa de operações mágicas, servindo de base para a esfera de cristal (a chamada shew-stone ou “pedra de visão”) por meio da qual o médium Kelley observaria os anjos. Quatro discos adicionais com o mesmo selo eram posicionados sob os pés da mesa, formando uma espécie de fundação sagrada para o círculo ritual (Sigillum Dei Aemeth). Esse arranjo estabelecia um espaço consagrado e protegido, no qual os anjos podiam se manifestar e dialogar, cumprindo o propósito original do Sigillum como ferramenta de comunicação espiritual segura e efetiva.
Vale notar que, de acordo com a tradição, apenas magistas de grande pureza espiritual deveriam usar tal selo, dada sua santidade e poder. O Liber Juratus já advertia que o Sigillum Dei era reservado àqueles capazes da “visão beatífica” (The Sigillum Dei (seal of God, or signum dei vivi, symbol of the living God, called by John Dee the Sigillum Dei Aemaeth, or... – @throneslbb on Tumblr). John Dee, profundamente religioso, via seu trabalho mágico não como feitiçaria profana, mas como uma forma de teurgia – um esforço para alcançar verdades divinas. O Sigillum Dei Aemeth, dentro desse contexto, tinha o papel de âncora da verdade divina e proteção espiritual, assegurando que Dee e Kelley recebessem instruções fidedignas dos anjos, sob a égide de Deus.
Significado do Nome "Sigillum Dei Aemeth"
O próprio nome “Sigillum Dei Aemeth” reflete a importância de verdade e autenticidade divina atribuída a este pantáculo. Em latim, Sigillum Dei significa “Selo de Deus”, e Dee acrescentou a palavra hebraica Aemeth (escrita às vezes como Ameth ou Emeth), que significa “verdade” (The Sigillum Dei (seal of God, or signum dei vivi, symbol of the living God, called by John Dee the Sigillum Dei Aemaeth, or... – @throneslbb on Tumblr). Assim, a expressão pode ser traduzida como “Selo da Verdade de Deus” ou “Selo do Deus Verdadeiro”. Esse nome distintivo visava destacar que a versão de Dee era o verdadeiro e legítimo selo de Deus, em contraste com representações anteriores consideradas incompletas ou incorretas (Una Tragedia para Amantes y Soñadores: Sigillum Dei Aemaeth).
A escolha de Aemeth carrega forte simbolismo. Na tradição cabalística e esotérica, Emet (verdade) é a palavra que concentra a essência da verdade divina, representando aquilo que é eterno e imutável. Ao denominar seu pantáculo como o “Selo da Verdade”, Dee sugeria que ele havia captado a forma verdadeira e incorrupta do selo celestial, tal como revelada pelos anjos. Dessa forma, o Sigillum Dei Aemeth estaria impregnado da Verdade Divina, servindo como um talismã para distinguir o verdadeiro do falso no plano espiritual. Em termos práticos, isso implicava que qualquer comunicação obtida com auxílio do Sigillum seria confiável e em concordância com a vontade de Deus – protegendo o operador contra ilusões ou artimanhas de espíritos inferiores. A verdade no nome também reforça a função do sigilo como selo protetor, já que aquilo que é da Verdade divina também provê proteção espiritual contra o engano e a influência maligna.
Simbolismo e Estrutura Visual do Sigillum Dei Aemeth
(File:Sigillum Dei Æmeth.jpg - Wikimedia Commons) Figura – Representação do Sigillum Dei Aemeth entalhado em um disco. Observa-se a estrutura geométrica concêntrica: círculos externos contendo letras e números, polígonos de sete lados (heptágonos), a estrela de sete pontas (heptagrama) e, ao centro, a estrela de cinco pontas (pentagrama) envolvendo um pequeno pentágono e uma cruz. (Sigillum Dei - Wikipedia)
O Sigillum Dei Aemeth é notável por sua estrutura geométrica concêntrica e complexa, repleta de símbolos sagrados, letras e nomes divinos. Sua forma básica consiste em uma série de camadas sobrepostas, combinando formas poligonais e circulares. De fora para dentro, identifica-se geralmente a seguinte composição geométrica: dois círculos exteriores, um heptágono (polígono de 7 lados) maior, um heptagrama (estrela de 7 pontas), outro heptágono interior e, no núcleo, um pentagrama (estrela de 5 pontas) envolvendo pequenos pentágonos formados por suas interseções (Sigillum Dei - Wikipedia). Cada faixa ou seção dessa estrutura contém sequências de letras, números ou sigilos (símbolos mágicos), dispostos de forma a codificar os diversos nomes de Deus, dos anjos e espíritos associados ao Sigillum. Em termos gerais, o sigilo apresenta uma hierarquia simbólica: os nomes divinos mais elevados figuram nas camadas externas, enquanto nomes de ordens angélicas cada vez mais inferiores aparecem em camadas mais internas, chegando ao símbolo da Terra no centro. A seguir, descrevemos os principais elementos visuais e seus significados em cada camada do Sigillum:
Camada / Elemento |
Descrição e Simbolismo |
Anel Externo (círculo) |
Contém uma
sequência de letras dispostas ao redor da borda, representando os
nomes de sete anjos associados aos planetas clássicos. Essas letras
não formam palavras legíveis de imediato; para extrair cada nome angélico é
preciso seguir uma instrução numérica: certas letras vêm marcadas com números
acima ou abaixo, indicando quantas posições se deve avançar no sentido
horário ou anti-horário para compor o nome completo unatragediaparasoniadores.blogspot.com unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Aplicando
esse método obtêm-se os sete nomes: Thaaoth (Marte), Galaas
(Saturno), Gethog (Júpiter), Horlwn (Sol), Innon
(Vênus), Aaoth (Mercúrio) e Galethog (Lua) unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Esses são
chamados de “Anjos da Luz” ou Angeli lucis, descritos como
compreendendo os sete poderes interiores de Deus, conhecidos somente por Ele unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Em outras
palavras, simbolizam as virtudes planetárias mais ocultas da divindade. |
Heptágono Externo |
Logo após o
anel circular, há um heptágono onde se inscrevem os nomes dos “Sete
Anjos que estão perante a Presença de Deus”, tradicionalmente entendidos
como os sete arcanjos principais. Cada um dos sete lados do heptágono contém
uma seção com letras; quando reorganizadas numa matriz 7×7 e lidas
horizontalmente, revelam os nomes: Zaphkiel (Saturno), Zadkiel
(Júpiter), Cumael (Marte), Raphael (Sol), Haniel
(Vênus), Michael (Mercúrio) e Gabriel (Lua) unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Estes nomes
arcanjélicos aparecem escritos no heptágono geralmente em forma abreviada
ou criptografada, mas sempre em sequência horária unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Eles
representam os grandes arcanjos planetários da tradição judaico-cristã, que
“assistem diante de Deus” segundo apócrifos e escritos místicos – indicando
um nível altíssimo na hierarquia celeste. |
Heptagrama (estrela de 7 pontas) |
No interior
do heptágono maior, encontra-se sobreposto um heptagrama (estrela de
sete pontas). Nas pontas dessa estrela aparecem inscrições que
correspondem aos nomes de sete entidades chamadas “Filhas da Luz”,
enquanto ao longo das linhas (cada segmento interno conectando as
pontas) estão os nomes dos “Filhos da Luz” unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Esses nomes
foram obtidos também a partir de uma matriz de 7×7 letras (derivada de nomes
de espíritos planetários) lida em diagonais específicas, conforme as
instruções registradas por Dee unatragediaparasoniadores.blogspot.com . As Filhas
da Luz e Filhos da Luz podem ser entendidos como ordens angélicas
de nível intermediário, geradas a partir dos arcanjos anteriores – uma
alegoria de que cada arcanjo “gera” sete filhas (forças ou inteligências
femininas/passivas) e cada filha gera um filho (força masculina/ativa),
compondo assim um reticulado de 49 nomes relacionados às virtudes
divinas manifestadas na criação unatragediaparasoniadores.blogspot.com unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Em suma, o
heptagrama e seus nomes representam a multiplicação das forças divinas
adentrando planos cada vez mais próximos do mundo material. |
Heptágonos Internos |
Dentro do
heptagrama, o Sigillum exibe geralmente dois heptágonos concêntricos
menores (às vezes visualizados como um heptágono duplo). Nesses espaços
estão escritos mais dois conjuntos de nomes misteriosos: um conjunto referido
como “Filhas das Filhas” e outro como “Filhos dos Filhos” unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Esses
derivam de leituras diagonais adicionais da mesma matriz de 7×7 mencionada,
representando emanacões subsequentes na hierarquia angelical. As
Filhas das Filhas seriam uma geração ainda seguinte de forças (cada Filha
da Luz gerando sete outras), e os Filhos dos Filhos analogamente
provenientes dos Filhos da Luz unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Com esses
níveis, totaliza-se uma elaborada árvore hierárquica de nomes sagrados,
refletindo a ideia de que o poder divino se encadeia e se desdobra em
múltiplas esferas até permear toda a criação. |
Pentagrama Central e símbolos |
No centro
exato do Sigillum localiza-se um pentagrama (estrela de cinco pontas)
inscrito, frequentemente rodeado por um pequeno círculo ou pentágono, e tendo
ao centro uma cruz latina †. Em torno e dentro desse pentagrama são
colocadas as letras iniciais ou integrais dos nomes dos sete “Espíritos
Planetários” (Sabathiel, Zedekieiel, Madimiel, Semeliel, Nogahel,
Corabiel e Levanael, correspondentes a Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus,
Mercúrio e Lua) unatragediaparasoniadores.blogspot.com unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Esses
nomes, obtidos da mesma matriz 7×7 em padrão zigue-zague, representam
potências angélicas ligadas a cada planeta. No pentagrama, eles aparecem
dispostos de forma que: as letras de Sabathiel circundam externamente
a estrela (geralmente sem a partícula “-el” na escrita) e os nomes dos cinco
planetas seguintes ficam mais próximos do centro, com suas iniciais
posicionadas dentro dos cinco ângulos do pentagrama unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Já Levanael
(espírito lunar) ocupa o núcleo central, escrito em volta de uma pequena cruz.
Essa cruz central simboliza a Terra – é o antigo símbolo astrológico
do elemento terra/mundo material – indicando que o planeta Terra está no centro
de todas as forças divinas e celestes representadas unatragediaparasoniadores.blogspot.com . Em suma, o
pentagrama central com a cruz constitui o ponto de convergência final da
influência divina no sigilo, ancorando-a no mundo terreno. |
Além das camadas listadas acima, o Sigillum Dei Aemeth incorpora alguns elementos adicionais dignos de nota. Por exemplo, entre o anel externo e o heptágono maior, encontram-se sete sigilos gráficos únicos (pequenos símbolos em forma de caracteres especiais) que, lidos em sequência anti-horária, formam a palavra GALAS GETHOG THAAOTH HORLWN INNON AAOTH GALETHOG – a mesma sequência dos Anjos da Luz, representada não por letras latinas, mas por glifos mágicos (Una Tragedia para Amantes y Soñadores: Sigillum Dei Aemaeth). Esses sete símbolos foram descritos pelos anjos como os “Sete Assentos do Deus Único e Eterno”, ou as bases espirituais sobre as quais se apoiam os sete anjos secretos de Deus (Una Tragedia para Amantes y Soñadores: Sigillum Dei Aemaeth). Cada sigilo estaria associado, em sentido trinitário, às três pessoas divinas (Pai, Filho e Espírito Santo) de forma velada. Esse é um exemplo de como letras e símbolos são combinados no Sigillum para transmitir verdades místicas de maneira cifrada.
Toda a estrutura do Sigillum Dei Aemeth é, portanto, rica em correspondências simbólicas. Ele reflete a cosmologia renascentista de Dee, alinhada tanto com a tradição angélica judaico-cristã (anjos, arcanjos, nomes divinos secretos) quanto com a astrologia (os sete planetas clássicos e suas inteligências regentes). Importante salientar que esse diagrama não é meramente decorativo: a disposição em camadas concêntricas também indica uma ordem hierárquica. Quando “lido” do círculo mais externo até o centro, o Sigillum representa alegoricamente a descida do poder divino através das esferas espirituais até o mundo material (Una Tragedia para Amantes y Soñadores: Sigillum Dei Aemaeth). Ou seja, começa em Deus e em Seus nomes inefáveis, passa pelos arcanjos perante o Seu trono, depois pelos coros de anjos de luz gerados desses arcanjos, e assim sucessivamente, culminando nos espíritos planetários que influenciam a Terra – com a Terra figurada simbolicamente no coração do selo. Esse esquema análogo ao cosmo tornava o Sigillum Dei Aemeth uma espécie de mapa místico do universo, condensando em um único glifo a teologia, a angelologia e a magia renascentista.
Uso Ritualístico e Espiritual do Sigillum (Base para Comunicação Espiritual)
Nas operações mágicas conduzidas por John Dee, o Sigillum Dei Aemeth ocupava um lugar central no aparato ritual. Conforme mencionado, Dee mandou confeccionar cinco discos de cera com o desenho do Sigillum gravado em baixo relevo (Sigillum Dei Aemeth). Um desses discos (com cerca de 23 cm de diâmetro, segundo registros) era destinado a ficar sobre a mesa – a chamada “Mesa Santa” – servindo de plataforma para a pedra de vidência (um cristal ou espelho no qual Kelley enxergava as visões) (2030 - Seal of God - Museum of Witchcraft and Magic). Os outros quatro discos, menores, eram colocados sob os pés da mesa, de modo que toda a estrutura estivesse assentada sobre os selos sagrados. Esse arranjo geométrico tinha por objetivo consagrar o espaço ritual e criar um campo de proteção espiritual durante as conjurações e diálogos com entidades. Dee registrou que essa disposição lhe foi dada explicitamente pelos anjos: “A pedra de ver deverá ser colocada sobre o ‘Selo de Deus’ no topo da Mesa Santa, e cópias do mesmo selo em cera debaixo de cada um dos quatro pés da mesa” (2030 - Seal of God - Museum of Witchcraft and Magic).
A função prática do Sigillum nos rituais era múltipla. Em primeiro lugar, ele atuava como um talismã de proteção: acreditava-se que nenhum espírito maligno ou influência indesejada poderia penetrar o espaço sagrado delimitado pelo selo. Todos os nomes de Deus e dos anjos inscritos serviriam para afugentar demônios e garantir que apenas entidades benignas (isto é, os anjos autênticos) se manifestassem. Em segundo lugar, o Sigillum funcionava como um símbolo de autoridade sobre as inteligências convocadas – portando o “selo de Deus”, Dee apresentava credenciais divinas no trato com os anjos, legitimando suas petições e perguntas. Por fim, ele também tinha uma função de foco energético: acreditava-se que a complexa mandala angélica do Sigillum concentrava e canalizava as forças planetárias e celestiais, facilitando a aparição de visões e vozes durante a scrying.
O próprio John Dee parecia ter grande reverência e até um certo temor diante do Sigillum revelado. Em seus diários, após receber dos anjos a imagem completa do pantáculo, ele anotou: “É tão terrível que tremo ao juntá-lo” (2030 - Seal of God - Museum of Witchcraft and Magic) – sinal de quão poderoso e sagrado ele considerava aquele objeto. Os cuidados na fabricação também refletiam essa seriedade: os selos de cera deviam ser puros e limpos; qualquer imperfeição ou uso indevido poderia comprometer a comunicação. Durante as sessões, Dee orava intensamente e seguia à risca as instruções angelicais ao dispor o Sigillum, confiando que assim estaria pisando num terreno seguro para dialogar com o divino.
Em resumo, no uso ritual original, o Sigillum Dei Aemeth serviu como a base literal e figurada para as experiências espirituais de Dee e Kelley. Colocado sob o cristal de comunicação, ele era o portal através do qual a “voz de Deus” (via anjos) podia se fazer ouvir, e também o escudo que mantinha a integridade espiritual do operador. Essa aplicação – base para o cristal de comunicação – acabou se tornando a imagem clássica do Sigillum Dei Aemeth na magia: um grande selo talhado em cera, sustentando o elo entre Céu e Terra nos ritos de teurgia renascentista.
Interpretações Modernas e Uso Atual em Tradições Ocultistas
Após o período elisabetano, o conhecimento do Sigillum Dei Aemeth e do sistema enoquiano de John Dee permaneceu relativamente obscuro até o final do século XIX, quando houve um ressurgimento de interesse por ocultistas e estudiosos. A Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn), fundada em 1888, incorporou partes da magia enoquiana em seus ensinamentos, voltando a estudar os diários de Dee. Nesse revival ocultista, o Sigillum foi redescoberto como um valioso diagrama de magia planetária e angelical. Ocultistas notáveis como Aleister Crowley também exploraram e difundiram o Sigillum: Crowley publicou detalhes e instruções sobre ele na revista The Equinox no início do século XX, apresentando o pantáculo a uma nova geração de magos (2030 - Seal of God - Museum of Witchcraft and Magic). A partir de então, o Sigillum Dei Aemeth consolidou-se como parte do repertório da magia cerimonial ocidental.
Hoje, o Sigillum Dei Aemeth é visto com respeito e fascínio por diversas tradições ocultistas. Praticantes de magia enoquiana contemporâneos frequentemente confeccionam seus próprios Sigilla de cera (ou de outros materiais, como madeira, metal ou resina) para uso em rituais de comunicação angélica, seguindo o modelo original de Dee. Grupos inspirados na Golden Dawn e na Ordo Templi Orientis (O.T.O.), bem como magos cerimoniais independentes, estudam sua complexa simbologia e o empregam como ferramenta de meditação e consagração em trabalhos espirituais. Alguns o utilizam literalmente como Dee fazia – sob uma bola de cristal ou espelho mágico – buscando orientação de inteligências superiores. Outros o adotam de forma mais simbólica, visualizando-o em práticas de magia astral ou usando sua imagem para consagrar templos e altares, aproveitando sua aura de síntese cósmica e proteção divina.
Paralelamente, o Sigillum Dei Aemeth também ganhou notoriedade fora dos círculos iniciáticos estritos, penetrando na cultura popular e no imaginário coletivo sobre o ocultismo. Livros, jogos e séries de TV ocasionalmente exibem versões do Sigillum como símbolo de poder ou proteção. Por exemplo, a série Supernatural (2005–2020) retratou versões do Sigillum Dei em cenas como armadilha para demônios – uma licença poética inspirada em sua reputação de selo angelical (Sigillum Dei Aemeth). Embora tais representações sejam simplificadas, elas ilustram como o Sigillum se tornou um ícone reconhecível da magia ocidental.
Em âmbito acadêmico e histórico, o Sigillum Dei Aemeth igualmente desperta interesse. Pesquisadores de história da ciência e da magia, ao estudar John Dee, dedicam atenção especial a esse diagrama pela maneira única como combina conhecimentos cabalísticos, astrológicos e cristãos. Obras modernas, como The Magic Seal of Dr. John Dee de Colin D. Campbell (2009), analisam detalhadamente sua construção e significados, trazendo novas luzes sobre o processo criativo de Dee. Assim, o Sigillum transita entre o objeto de estudo erudito e o objeto de uso esotérico vivo.
Em suma, nas interpretações modernas, o Sigillum Dei Aemeth é visto simultaneamente como um legado histórico – um artefato da magia renascentista carregado de simbolismo teológico – e como um símbolo operativo atual, capaz de concentrar energias arquetípicas em práticas ocultistas contemporâneas. Seja reproduzido fielmente em um altar mágico, seja estilizado em obras de arte e mídias, ele permanece associado à ideia de um “Selo de Deus da Verdade”, imbuído de autoridade espiritual e proteção. Essa perenidade atesta a força do símbolo concebido por John Dee: mais de quatro séculos depois, o Sigillum Dei Aemeth continua a inspirar aqueles que buscam na tradição hermética um meio de se conectar com as verdades divinas e os mistérios angélicos (2030 - Seal of God - Museum of Witchcraft and Magic).
Referências: John Dee (prefácio de Mysteriorum Liber Quintus, 1582); Liber Juratus Honorii (cód. Sloane MS 313, British Library); Casaubon, A True and Faithful Relation... (1659); Campbell, The Magic Seal of Dr. John Dee (2009); Peterson, John Dee’s Five Books of Mystery (1985). (2030 - Seal of God - Museum of Witchcraft and Magic) (Sigillum Dei Aemeth) (The Sigillum Dei (seal of God, or signum dei vivi, symbol of the living God, called by John Dee the Sigillum Dei Aemaeth, or... – @throneslbb on Tumblr) (Una Tragedia para Amantes y Soñadores: Sigillum Dei Aemaeth) (Una Tragedia para Amantes y Soñadores: Sigillum Dei Aemaeth)
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