Uma evocação do Duque das Doenças segundo o Grande Grimório, adaptada à prática da Magia do Caos
❖ Introdução: um daemon doentes e dos desajustes
Entre os nomes ocultos que se escondem nas entrelinhas dos grimórios antigos, Guland é um daqueles que ecoam como veneno sussurrado. Descrito no “Grande Grimório” (também conhecido como Le Dragon Rouge), Guland é apresentado como um Duque Infernal, subordinado direto ao grande Lucifuge Rofocale, Primeiro-Ministro de Lúcifer. Sua função: espalhar doenças físicas e mentais entre os vivos, especialmente aquelas que escapam à medicina e à razão.
“Guland faz adoecer homens e mulheres; ele pode ser conjurado para infligir ou retirar o mal da carne.”
— Le Dragon Rouge, manuscritos franceses do século XIX.
Não há glamour em sua presença — há delírio, febre, desequilíbrio, tremores, paranoia, dores sem explicação. Ele caminha entre os corpos como um miasma que pensa. Guland é o daemon da corrosão lenta, do vírus sem nome, da síndrome sem diagnóstico, da mente que colapsa em si mesma.
❖ A Hierarquia Infernal: estrutura do pacto
Segundo o “Grande Grimório”, a estrutura da autoridade infernal segue a seguinte ordem:
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Lúcifer — Imperador
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Belzebu — Príncipe Supremo
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Astaroth — Grão-Duque
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Lucifuge Rofocale — Primeiro-Ministro Infernal
Guland é um dos seis Grandes Espíritos Subordinados, operando sob comando direto de Lucifuge. Portanto, qualquer operação mágica com Guland exige, tradicionalmente, uma evocação que passe por essa cadeia hierárquica. Porém, a Magia do Caos permite reestruturar essa cadeia, adaptando-a à vontade do operador, desde que o vínculo seja firme e a intenção, inabalável.
❖ Ritual Caótico de Infecção e Colapso
⚠️ Advertência:
Este ritual é de destruição psíquica e física. Não deve ser realizado por vaidade ou impulso. O retorno de um pacto com Guland pode ser silencioso, mas não menos destrutivo para o operador despreparado.
✦ Materiais:
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Papel branco recortado em forma humanoide (boneco)
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Caneta preta (para escrever o nome do alvo)
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Cera vermelha derretida (simbolizando o sangue e a febre)
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Sigilo do intento desenhado no verso do boneco
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Vela preta (corrosão psíquica)
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Vela verde escura (doença física)
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Ervas secas: arruda, beladona (ou substituta segura como manjericão seco), e losna (artemísia)
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Incenso: mirra ou enxofre (ou mirra + carvão vegetal)
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Pires com terra (representando o túmulo simbólico)
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Círculo de proteção desenhado com carvão, giz ou sal negro
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Selo de Guland desenhado ou impresso
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Cálice com vinho ou vinagre negro (oferenda)
✦ Construção do instrumento de infecção:
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Escreva o nome completo do alvo no centro do boneco de papel.
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No verso do boneco, desenhe um sigilo representando o intento de destruição, que pode ser construído usando a técnica de Austin Osman Spare, ou canalizado intuitivamente.
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Derrame a cera vermelha derretida sobre o boneco, cobrindo parte do corpo, especialmente a cabeça, o ventre e o coração.
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Polvilhe as ervas secas sobre a cera ainda quente, dizendo:
“Por tua carne, trago a febre. Por tua mente, trago o delírio.
Por teu nome, trago o toque de Guland, servo da enfermidade eterna.”
✦ Traçado do Círculo e Altar Infernal:
No centro do espaço ritualístico:
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Posicione o selo de Guland no chão ou altar.
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À esquerda, a vela preta. À direita, a vela verde escura.
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Incenso queimando à frente.
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O boneco sobre a terra, no centro do selo.
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Cálice com vinho ou vinagre negro atrás do selo, como oferenda.
✦ Evocação da Hierarquia:
Inicie com firmeza:
“Em nome do Imperador Lúcifer,
pelo Príncipe Belzebu,
sob o olhar do Grão-Duque Astaroth,
e pela autoridade de Lucifuge Rofocale,
eu convoco o Duque Guland —
mestre das pestes, senhor da enfermidade invisível.”
Toque o solo três vezes e continue:
“A ti, Guland, abro este corpo de papel.
Em cada fio de cera, que a doença se instale.
Em cada nome aqui traçado, que a mente se quebre.
Sela com febre, com dor, com paranoia e desordem.
Que a vitalidade desse ser se torne alimento para teus espíritos febris.”
✦ Reza de Fixação:
Acenda as velas. Entoe lentamente:
*“Daemon da carne que se desfaz,
Semeador de confusão e tremor,
Guland, que caminha invisível entre os vivos —
Derrama tua presença como peste e silêncio.
Que o nome (dizer o nome completo do alvo)
se torne eco vazio,
suado, inquieto, fatigado, delirante.Recebe minha oferenda,
e leva contigo a sanidade daquele que cruzou meu caminho.”*
✦ Encerramento e liberação:
Após a queima das velas:
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Enterre o boneco e a terra do prato em um local isolado, ou descarte em água corrente, se possível com restos de vinho/vinagre.
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Guarde o selo de Guland em um local sombrio, como um espelho negro ou caixa de madeira forrada com pano preto.
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Faça uma limpeza pessoal com sal, arruda e vela branca após 24h.
❖ Considerações finais
Guland não é um espírito de resposta emocional. Ele não age por fúria, mas por decadência fria e silenciosa. Seus efeitos se instalam como mofo em templo abandonado, corroendo aos poucos. Sua magia é lenta, mas certeira.
A adaptação deste ritual à Magia do Caos permite ao operador evitar o pacto direto com Lucifuge, desde que Guland seja tratado com o devido respeito e firmeza. O sigilo, a cera e a oferenda são os vínculos simbólicos que selam o trato — e no Caos, o símbolo é o próprio Verbo feito carne.
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