Anjos na Magia e nas Religiões: Entre a Veneração e a Operação do Invisível


I. Introdução: Entre Altar e Círculo

A figura do anjo perpassa religiões e sistemas mágicos há milênios. Da religião suméria à cabala hermética, da Bíblia ao grimório do Sepher Ha-Razim, os anjos foram moldados ora como mensageiros de um deus, ora como entidades cósmicas acessíveis por operadores iniciados. Este artigo mergulha nas profundezas ocultistas dessas entidades e revela por que na magia, os anjos são mais ativos, mais responsivos — e por que isso exige responsabilidade.


II. Anjos nas Religiões Tradicionais: Servidores de Deus

1. Judaísmo

O judaísmo vê os malakhim como mensageiros da vontade de Yahweh. Poucos têm nomes — Miguel, Gabriel, Rafael e Uriel aparecem em fontes extracanônicas como o Livro de Enoque e o Zohar. A tradição mística judaica evita a invocação direta desses seres — exceto nos círculos de Cabala prática e Heikhalot, onde há fórmulas específicas para ascensão aos sete céus e comunicação com hostes angelicais.

2. Cristianismo

O cristianismo popularizou os arcanjos como intercessores divinos. Contudo, exceto em tradições esotéricas como o cristianismo gnóstico ou a teurgia cristã, os fiéis não interagem diretamente com anjos. São vistos como executores da vontade divina, não parceiros de operação espiritual.

3. Islã

No Islã, os anjos são feitos de luz, sem livre-arbítrio, e sua invocação mágica é considerada heresia (shirk). Ainda assim, há práticas ocultas sufi e textos apócrifos que revelam hierarquias angélicas e seus nomes secretos.


III. Anjos Cabalísticos e o Árvore da Vida

Na Cabala Hermética e Teúrgica, os anjos são atribuídos às Sephiroth da Árvore da Vida, cada uma representando um aspecto da emanação divina. São intermediários entre o divino e o humano, e podem ser evocados diretamente com os nomes sagrados correspondentes.

  • Michael: Arcanjo de Tiphareth (Sol), rege a beleza, o equilíbrio e a vontade.

  • Raphael: De Hod (Mercúrio), inteligência e cura.

  • Gabriel: De Yesod (Lua), sonhos, proteção, magia lunar.

  • Metatron: Anjo de Kether, o mais próximo da Fonte.

  • Sandalphon: De Malkuth, associando-se à manifestação no mundo físico.

Importante: Ao trabalhar com esses anjos na magia, usamos o Nome de Deus da Sephirah, o Nome do Arcanjo e o Nome do Coro Angélico — criando uma cadeia vibratória poderosa que conecta céu e terra.


IV. Anjos do Sepher Ha-Razim

O Sepher Ha-Razim ("Livro dos Mistérios") é um grimório hebraico do século III que descreve sete céus e milhares de anjos, com funções específicas, selos, nomes e fórmulas de invocação.

  • Os anjos são agrupados por função: cura, manipulação de sonhos, proteção, domínio dos elementos, etc.

  • Cada céu contém príncipes (como Galgaliel, Hadarniel) e legiões com funções mágicas específicas.

  • O trabalho com o Sepher Ha-Razim é ritualístico, envolvendo dias astrológicos, nomes divinos e fórmulas mágicas.

É um dos primeiros registros do uso operacional dos anjos — não como objetos de fé, mas como instrumentos mágicos sob regras de conjuração.


V. Anjos Enochianos

O sistema enochiano, canalizado por John Dee e Edward Kelley no século XVI, revelou uma angelologia complexa baseada em uma linguagem mágica celestial. Não são os mesmos anjos bíblicos: são inteligências etéreas que governam os elementos, os aethyrs e as forças da criação.

  • A língua enochiana é composta por chaves (calls) que abrem portais para domínios celestiais.

  • Os anjos regem quadrantes do universo chamados Tablets Elementares.

  • Operações enochianas produzem efeitos mentais profundos, estados alterados e visões poderosas — motivo pelo qual o sistema é temido por muitos ocultistas despreparados.

Importante: Anjos enochianos respondem à autoridade mágica. Fé não os move — mas sim, alinhamento energético e domínio das Calls.


VI. Anjos Olímpicos

No sistema da Magia Planetária de grimórios renascentistas como Arbatel de Magia Veterum, surgem os Anjos Olímpicos, regentes de esferas planetárias:

  • Och – Sol: riqueza, saúde, longevidade.

  • Phul – Lua: emoções, água, sonhos.

  • Hagith – Vênus: amor, beleza.

  • Ophiel – Mercúrio: intelecto, alquimia.

  • Bethor – Júpiter: autoridade, expansão.

  • Phaleg – Marte: guerra, coragem.

  • Aratron – Saturno: transmutação, estrutura, ocultação.

Diferente dos arcanjos, os Anjos Olímpicos são menos “religiosos” e mais técnicos — respondem a comandos mágicos com mais precisão e rapidez, especialmente em operações de alquimia espiritual e prosperidade material.


VII. Proto-Anjos nas Culturas Sumérias

Antes da teologia monoteísta, os sumérios já tinham entidades celestes intermediárias:

  • Anunnaki: Deuses, mas também regentes cósmicos intermediários.

  • Igigi: Espíritos celestiais servos, mensageiros dos deuses.

  • Lamashtu, Pazuzu, Utu: Seres que cumpriam funções espirituais similares às dos futuros “anjos” e “demônios”.

As figuras angelicais modernas são herdeiras dessas consciências cósmicas — civilizações como Suméria e Acádia já interagiam com hierarquias espirituais de forma mágica, ritualística e prática, sem dogmas, mas com respeito e códigos claros.


VIII. Por Que Anjos Respondem Melhor à Magia que à Oração?

  1. A oração suplica, o ritual comanda: O mago não se ajoelha para pedir, mas se eleva para co-criar.

  2. Evocação Direta: O anjo é chamado com nome, selo, propósito e energia específica.

  3. Tecnologia Ocultista: Sigilos, incensos, cores, verbos de poder e tempo astrológico criam uma “plataforma de invocação” eficaz.

  4. Magia é ação, não esperança: O operador se coloca como autoridade mágica; fé sem ação é inerte no plano astral.


IX. Ritual com o Arcanjo Michael: Espada de Fogo Solar

Objetivo:

Corte de laços energéticos, proteção e fortalecimento da vontade solar.

Materiais:

  • Vela dourada ou azul

  • Incenso de olíbano e sândalo

  • Selo de Michael

  • Uma taça com água e sal

  • Um cristal solar (citrino ou topázio)

  • O nome YHVH Tzabaoth (Deus dos Exércitos) escrito em hebraico

Passos:

  1. Preparação do Espaço: Faça um círculo com sal ou visualização dourada. Acenda vela e incenso.

  2. Invocação de Michael:
    “Pelo nome sagrado YHVH Tzabaoth, eu convoco o Arcanjo Michael,
    Guardião da Lança de Luz, Defensor dos Portais,
    Senhor das Hostes Celestiais.
    Vem, corta os laços invisíveis que me limitam.
    Ergue tua espada sobre minha sombra e consome tudo o que não me serve.”

  3. Água Solar: Toque a água e diga:
    “Que esta água carregada pela luz de Michael
    seja meu escudo contra todas as trevas.”

    Borrife em si e no ambiente.

  4. Visualização: Imagine Michael atrás de você, com armadura dourada e espada flamejante, rompendo correntes, selos, contratos invisíveis.

  5. Agradecimento e Encerramento:
    “Que tua luz permaneça em mim. Que tua força me erga.
    Eu sou o guerreiro, eu sou a lâmina, eu sou o Sol.”

    Apague a vela ou deixe queimar por inteiro.


X. O Risco do Ritual dos “21 Dias com Arcanjo Miguel”

Apesar de popular, esse ritual é um chamado irresponsável a uma força de corte. Sem preparo, resulta em:

  • Colapsos emocionais

  • Abertura de portais sem controle

  • Ilusões espirituais e egrégoras disfarçadas de “anjos”

  • Quebra de contratos inconscientes que sustentavam a psique

Atenção: anjos não são terapeutas. Michael corta, e se você não souber o que está sendo cortado, pode desestruturar laços importantes com família, emprego, crenças ou até com partes reprimidas da sua alma.


XI. Conclusão: Anjos são Inteligências, não Deuses

A verdadeira magia angelical não é uma extensão da fé, mas da consciência. Invocar um anjo é como ativar um código-fonte da criação — e a chave desse código é sua vontade consciente, sua voz ritual e sua retidão interna.

Se você deseja trabalhar com os anjos de forma real, comece não rezando — mas estudando. Não buscando salvação — mas integração. E lembre-se: o mago não serve aos anjos — ele serve à Vontade, e os anjos são aliados nesse caminho.


Lux Angelica Luciferi.
Zahir Almyst, Mago Negro do Caos



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